Autor: Laércio Lins
A “Maria fumaça” me transportou no tempo. Trilhos quentes sob o sol apontando um caminho de volta às lembranças de minha infância. Cenários de um sábado pintado a óleo sobre tela. Entrei no quadro à brincar olhando o trem passar. Revivi a poeira, o cheiro dos canaviais e do melaço vindo da usina. Revivi o amanhecer de minha vida. O vapor e o atrito do trem nos trilhos. Homens, mulheres, crianças e o cachorro concentrado numa lixeira em busca de alimento.
Entrei na casa onde nasci, ela já não existe mais, foi derrubada por uma enchente dos rios Pirangi e Panelas. Debrucei na janela da cozinha e de lá revi o encontro dos dois rios no fundo do quintal, enquanto minha mãe coava um café, cheiro de café fazendo ressuscitar a natureza morta transformando-a em natureza viva. Casas, pessoas, o trem, o cachorro e eu.
Os traços do artista me pintaram no quadro revivendo um tempo que já passou, mas, que continua vivo. Quadro, cápsula do tempo, transporte de pensamentos através dos anos, minha mãe cantarolando uma modinha de domínio público e meu pai ritmando, batucando à mesa com os dedos.
Entrar no quadro me trouxe de volta as raízes, meu povo e meu chão. Os vizinhos, Dona Dina estendendo roupas no varal, ela sempre me dava confeitos de mel de engenho que ela mesmo fazia. Dona Hortência, mulher com nome de flor, conversando com o marido Estácio, homem brincalhão que falava rápido a ponto de quase não se deixar entender.
17:30 horas, o apito da Usina Catende, vindo do vapor das caldeiras anunciava a saída dos operários de mais um dia de trabalho, entre eles meu avô, marmita na mão, roupa com cheiro de ferrugem misturado com melaço, bota e chapéu, sorriso largo no rosto tornando ainda menores os olhos pequenos.
Óleo sobre tela, realidade revelada pela sensibilidade do artista. Óleo sobre tela trazendo sons e imagens de uma época que passou com muita alegria.
Terminei de tomar o café, saí do quadro e saí.
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Que bela viagem!!!!!Amo o que você escreve. Saudade de Catende, do nosso começo.Bjs
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