terça-feira, 18 de maio de 2010

A filosofia, poesia e música de Orlando Doido

Autor: Laércio Lins

A filosofia poesia e música de Orlando Doido
Laércio Lins

Orlando era um sujeito tranqüilo, estatura mediana, magro e com olhar rápido de quem estava atento a tudo, conhecido como Orlando Doido, vivia pelas ruas de Catende, cidadezinha de trinta mil habitantes do estado de Pernambuco, onde nasci. Falavam que ele ficou maluco de tanto estudar. Eu não acreditava que alguém pudesse enlouquecer de tanto estudar e vez ou outra conversava com Orlando, eu era um garoto de 12 ou 13 anos quando meu pai me repreendeu por estas conversas. Eu não via nada demais nisso, acho que meu pai temia que eu pudesse enlouquecer também, talvez pensasse que doidice passa como gripe.

Orlando morava sob uma caixa d água da prefeitura ao lado da casa de bombas. Certa vez, ele me confessou falando baixinho, quase um segredo, que não havia conseguido dormir na noite anterior por que a música que saía da bomba d água estava desafinada.
O ambiente onde ele morava, apesar de arejado, tinha um cheiro de papéis velhos misturados com um odor natural que ele exalava por escassez de banho. Uma das paredes estava coberta por algumas pilhas de revistas e jornais velhos, “organizadas” completamente fora de ordem. O ambiente não era um melhores onde já estive. Só fui lá uma vez, depois disso preferia conversar com ele na rua, de preferência em lugares ventilados pra amenizar os “perfumes”.

Aprendi com Orlando a observar coisas sem a intensão de julgar, apenas pelo prazer de olhar, ver e viver o momento. Uma lição de simplicidade.
Ele também tinha umas manias. Gostava de ler apenas pelo prazer de ler, de juntar as letras em voz alta e curtir o som das palavras, isso para mim soava como poesia parnasiana, apenas forma sem conteúdo, era muito engraçado.

Até hoje, lembro de Orlando quando folheio revistas velhas, normalmente em consultórios médicos, sempre tem revistas velhas em consultórios médicos, eles não são loucos e também gostam de guardar revistas velhas, alguns acham que também gostamos, talvez por nos ver como pacientes e não como clientes, mas isso é tema para outro texto.

Orlando às vezes cantava gesticulando como se tocasse um violão, parava no meio da música para afinar as cordas imaginárias numa concentração de fazer inveja. Certo dia, fizemos uma banda. Ele com seu violão e eu com minha bateria imaginária novinha. Eu não estava vendo nem a bateria nem o violão, mas, ele estava, me perguntou onde comprei e elogiou a cor, fizemos um som muito diferente naquela tarde, foi muito divertido.

Leia outros textos em www.aostraeaperola.blogspot.com.br e www.laerciolins.blogspot.com.br

Instagram: @laércio.lins

6 comentários:

  1. "Orlando 'Doido'?!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! Não tem patologia alguma,apenas,cultiva algo que perdemos a medida que nos tornamos adultos e decerto é pormenorizado pelos mesmos;eis o real prazer de viver 'o imaginar';viver a alimentar a sublimação dos sonhos,por vezes,distantes em vida.Numa ação infantil ou pueril,num deleite,numa loucura nua de enternecer a alma com coisas tão simples e dignas da mais pura felicidade.Salve,cada 'momento Orlando' que não permitimos morrer em nós!!!". Nadja Maria.

    ResponderExcluir
  2. Que lindo texto, remete a minha infância em São Lourenço da Mata, onde existia pelas ruas um "doido" que também ficou assim de tanto estudar, muito parecido com este Orlando, só não me recordo o nome dele agora. Considero que essas pessoas tenham permanecido em alguma fase da sua infância, onde impera a sensibilidade, ingenuidade e pureza. Sentimentos que ao longo de nossa trajetória mundana vai se transformando e as vezes se extingue. Parabéns!!!!! Georgia Correia

    ResponderExcluir
  3. Bom, agora eu sei que o meu problema não é apenas meu. Pode-se mesmo ficar doido de estudar, olhar sem ver e ouvir sem escutar. Consegui identificar muitas semelhanças entre mim e Orlando "Doido". Creio que cada um de nós tenha um Orlando dentro de si. Amei o texto!
    Taiana Franco

    ResponderExcluir
  4. Eu, tenho um pouco de orlando doido, pois quando eu era pequena na minha imaginação eu dirigia um carro, lembro que ficava sentada numa lata vazia e colocava um cabo de vassou para ser a macha e duas tábuas pequenas para ser o pedau dos pés e ficava brincando com meu primo ainda dizia: vai devagar porque senão não chega no destino... rsrsrs com a imaginação conseguiremos acreditar mais e fazer com que os nossos sonhos se tornem reais.
    Abraços,
    Cláudia Juliana.

    ResponderExcluir
  5. Prezado amigo,
    Muito me orgulha privar de sua amizade, a riqueza de sua personalidade ilustra seu caráter.
    De "doido" todos temos um pouco e essa parte equilibra o todo, a fase da infância é mais pródiga, pois a inocência governa a razão. Guarde Orlando na memória e no coração.
    forte abraço.
    João Poggi

    ResponderExcluir
  6. Meu amigo,
    Quero entrar nessa banda. O melhor som que poderemos fazer sairá de nossos corações. Bom te ver...bom te ver bem.
    Sucesso !
    Wellington Nunes

    ResponderExcluir