A filosofia poesia
e música de Orlando Doido
Laércio Lins
Orlando era
um sujeito tranqüilo, estatura mediana, magro e com olhar rápido de quem estava
atento a tudo, conhecido como Orlando Doido, vivia pelas ruas de Catende,
cidadezinha de trinta mil habitantes do estado de Pernambuco, onde nasci.
Falavam que ele ficou maluco de tanto estudar. Eu não acreditava que alguém
pudesse enlouquecer de tanto estudar e vez ou outra conversava com Orlando, eu
era um garoto de 12 ou 13 anos quando meu pai me repreendeu por estas
conversas. Eu não via nada demais nisso, acho que meu pai temia que eu pudesse
enlouquecer também, talvez pensasse que doidice passa como gripe.
Orlando morava
sob uma caixa d água da prefeitura ao lado da casa de bombas. Certa vez, ele me
confessou falando baixinho, quase um segredo, que não havia conseguido dormir
na noite anterior por que a música que saía da bomba d água estava desafinada.
O ambiente
onde ele morava, apesar de arejado, tinha um cheiro de papéis velhos misturados
com um odor natural que ele exalava por escassez de banho. Uma das paredes
estava coberta por algumas pilhas de revistas e jornais velhos, “organizadas”
completamente fora de ordem. O ambiente não era um melhores onde já estive. Só
fui lá uma vez, depois disso preferia conversar com ele na rua, de preferência
em lugares ventilados pra amenizar os “perfumes”.
Aprendi com
Orlando a observar coisas sem a intensão de julgar, apenas pelo prazer de olhar,
ver e viver o momento. Uma lição de simplicidade.
Ele também tinha
umas manias. Gostava de ler apenas pelo prazer de ler, de juntar as letras em
voz alta e curtir o som das palavras, isso para mim soava como poesia
parnasiana, apenas forma sem conteúdo, era muito engraçado.
Até hoje,
lembro de Orlando quando folheio revistas velhas, normalmente em consultórios
médicos, sempre tem revistas velhas em consultórios médicos, eles não são
loucos e também gostam de guardar revistas velhas, alguns acham que também
gostamos, talvez por nos ver como pacientes e não como clientes, mas isso é
tema para outro texto.
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"Orlando 'Doido'?!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! Não tem patologia alguma,apenas,cultiva algo que perdemos a medida que nos tornamos adultos e decerto é pormenorizado pelos mesmos;eis o real prazer de viver 'o imaginar';viver a alimentar a sublimação dos sonhos,por vezes,distantes em vida.Numa ação infantil ou pueril,num deleite,numa loucura nua de enternecer a alma com coisas tão simples e dignas da mais pura felicidade.Salve,cada 'momento Orlando' que não permitimos morrer em nós!!!". Nadja Maria.
ResponderExcluirQue lindo texto, remete a minha infância em São Lourenço da Mata, onde existia pelas ruas um "doido" que também ficou assim de tanto estudar, muito parecido com este Orlando, só não me recordo o nome dele agora. Considero que essas pessoas tenham permanecido em alguma fase da sua infância, onde impera a sensibilidade, ingenuidade e pureza. Sentimentos que ao longo de nossa trajetória mundana vai se transformando e as vezes se extingue. Parabéns!!!!! Georgia Correia
ResponderExcluirBom, agora eu sei que o meu problema não é apenas meu. Pode-se mesmo ficar doido de estudar, olhar sem ver e ouvir sem escutar. Consegui identificar muitas semelhanças entre mim e Orlando "Doido". Creio que cada um de nós tenha um Orlando dentro de si. Amei o texto!
ResponderExcluirTaiana Franco
Eu, tenho um pouco de orlando doido, pois quando eu era pequena na minha imaginação eu dirigia um carro, lembro que ficava sentada numa lata vazia e colocava um cabo de vassou para ser a macha e duas tábuas pequenas para ser o pedau dos pés e ficava brincando com meu primo ainda dizia: vai devagar porque senão não chega no destino... rsrsrs com a imaginação conseguiremos acreditar mais e fazer com que os nossos sonhos se tornem reais.
ResponderExcluirAbraços,
Cláudia Juliana.
Prezado amigo,
ResponderExcluirMuito me orgulha privar de sua amizade, a riqueza de sua personalidade ilustra seu caráter.
De "doido" todos temos um pouco e essa parte equilibra o todo, a fase da infância é mais pródiga, pois a inocência governa a razão. Guarde Orlando na memória e no coração.
forte abraço.
João Poggi
Meu amigo,
ResponderExcluirQuero entrar nessa banda. O melhor som que poderemos fazer sairá de nossos corações. Bom te ver...bom te ver bem.
Sucesso !
Wellington Nunes