terça-feira, 29 de junho de 2010

Uma gota de orvalho em uma folha seca

Autor Laércio Lins

Ser poeta ou poesia é uma questão de estado: líquido, sólido ou gasoso; ou de estação: outono, inverno, primavera ou verão. Noite e dia, mar e céu. Noite escura de onde surge uma estrela. Há poesia nas coisas, há coisas na poesia.
Vi uma gota d água sobre uma folha seca. A água é símbolo de vida, normalmente é referência de brilho, luz, clareza, frescor e transparência. Nesta cena, o primeiro sentimento foi de impotência, de ação que não muda o cenário, a gota de orvalho não rega uma folha morta.
Olhando por outro ângulo, a estética e a beleza do conjunto me emocionou, vida e morte convivendo em harmonia entre o marrom da folha e a transparência da gota d água latente por vida.
A folha seca sem motivo e sem esperança realçava a beleza da gota de orvalho, contrastando com o cheiro de mato verde, terra molhada e fundo musical de um Ben-ti-vi. A gota de orvalho me falou que estava ajudando a folha morta a renascer terra. A cor marrom não era o fim, era apenas uma adaptação para um novo começo. Vi uma Fênix renascer sem fogo, a partir de uma gota de orvalho.

www.aostraeaperola.blogspot.com

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Em busca da poesia perdida

Autor: Laércio Lins

Água, fogo, terra e ar.
Pensamento, sentimento, palavra e verso.
Elementos da poesia, leito onde dorme meu reverso,
mistura e avesso do espelho em que me vejo.
Sentimento seco que sai da palavra crua
que me solta nos vales, corpo da palavra nua,
calando a língua, palavra solta na rua.
Lua minguante,
verso sem rima, sem terra, sem teto e sem jeito,
respiração, coração que não cabe no peito,
sufoca e aperta.
Água, fogo, terra e ar.
Oração, solidão do rio que vira mar,
explosão de vulcão solta no ar,
larva que desce a montanha,
larva que lava e petrifica a montanha.
Orvalho da manhã na folha seca,
sem vida, cena que nega.
Noite sem luar, coração sem amar,
brilho roubado do olhar.

Fada que cria o encanto, a beleza e a magia.
luz que transforma a noite em dia,
rima que dá brilho à poesia,
acende as estrelas com o fogo da vida,
pendura outra lua no céu infinito,
apaga essa noite, acende outro dia,
me dá um sentimento para um verso bonito,
me ensina as palavras que moram nas entrelinhas
do silêncio depois do grito.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Força

Autor: Laércio Lins

Força bruta das tempestades,
larva de vulcão ou avalanche, neve.
Força mãe natureza, sabedoria luz,
força clareza.
Força mulher, mãe e filha, um encontro,
sorriso no olhar ou brilho, sol.
Força do solo violão, sabedoria música,
força canção.
Força palavra que vem do pensamento,
certeza no gesto, uma flor, cheiro.
Força viagem, estradas, caminhos,
força paisagem.
Força amizade que nasce no abraço,
desenho grafite, uma musa, verso.
Força vento, brisa, maresia.
força tempo.
Força maior que rege o universo,
força Deus, a guiar cada filho
Força mulher, mãe e filho.
Parte, parto, partir e voltar.
Força amor.

terça-feira, 1 de junho de 2010

O brilho e o som que se vê

Autor: Laércio Lins

O brilho de uma estrela cabe na poesia, o som do silêncio também, no entanto, para ver o brilho da estrela é preciso ver além dos olhos, é preciso ver a alma por fora e por dentro.
Para ouvir o som do silêncio é preciso mais que ouvidos. Beethoven, surdo, compôs a nona sinfonia.
Vejo o brilho e escuto o silêncio, leio as linhas e principalmente as entrelinhas. Já ouvi alguém dizer que filosofia não serve pra nada. Serve sim, não houvesse a filosofia não existiria a arte e não existiria a poesia. Não houvesse a arte, não existiria a ciência ou a tecnologia. Os pensamentos se cruzam nas esquinas e também nas ruas retas, largas ou estreitas, ensolaradas ou chuvosas.
É possível voar à "terra do nunca" pra conversar com Peter Pan, e depois, através da filosofia de Heráclito, Sócrates ou Platão, ir à terra do sempre, lá se encontra as realidades e as fantasias que moram nos mitos que ultrapassam nossas fronteiras, nossos medos e nossos abismos.
Einstein olhava o trem pra ver o tempo, Ascenso Ferreira pegava o mesmo trem e saía "danado pra Catende."
Não importa pra onde se olha, o que importa é o que se vê. Platão nos trouxe o Mito da caverna, Heráclito nos banhou no rio. Em sua divina comédia, Dante nos mostrou o purgatório e o inferno em seu passeio com Virgilio, depois nos mostrou o paraíso em companhia de sua musa Beatriz. Cervantes nos emocionou com a poesia que há em Dom Quixote, sua amada Dulcinéia e seu amigo Sancho Pança em luta pelas diferenças sociais, enfrentando até moinhos de vento.
Velhos olhares, belas visões. Poesia, ciência e arte nos ensinando as belezas, das quais, a raça humana é capaz. Mesmo assim, enchemos o mundo de fumaça.
Ainda bem que Pandora guardou esperança em sua caixa, pouco a pouco olhamos o mundo de maneira diferente, descartáveis começam a dar lugar a recicláveis, começamos a enxergar a morte de árvores em uma inocente folha de caderno. O homem lobo do homem às vezes tem dia de cordeiro. As linguagens do silêncio, da sensibilidade e da percepção, cada dia fazem mais sentido, a comunicação é nossa maior ferramenta.
Caetano Veloso escreveu e cantou: "A Língua é minha Pátria. E eu não tenho Pátria. Tenho mátria. E quero frátria". Nesta frase demonstra impaciência, quase rebeldia pra chamar atenção pra outras maneiras de ver. A língua é pai, mãe e irmã da expressão e da compreensão, ligação entre todos os credos e valores, plasma do brilho e do som que, em tudo, se vê.