quarta-feira, 24 de novembro de 2010

O Quadro

Autor: Laércio Lins

A “Maria fumaça” me transportou no tempo. Trilhos quentes sob o sol apontando um caminho de volta às lembranças de minha infância. Cenários de um sábado pintado a óleo sobre tela. Entrei no quadro à brincar olhando o trem passar. Revivi a poeira, o cheiro dos canaviais e do melaço vindo da usina. Revivi o amanhecer de minha vida. O vapor e o atrito do trem nos trilhos. Homens, mulheres, crianças e o cachorro concentrado numa lixeira em busca de alimento.
Entrei na casa onde nasci, ela já não existe mais, foi derrubada por uma enchente dos rios Pirangi e Panelas. Debrucei na janela da cozinha e de lá revi o encontro dos dois rios no fundo do quintal, enquanto minha mãe coava um café, cheiro de café fazendo ressuscitar a natureza morta transformando-a em natureza viva. Casas, pessoas, o trem, o cachorro e eu.
Os traços do artista me pintaram no quadro revivendo um tempo que já passou, mas, que continua vivo. Quadro, cápsula do tempo, transporte de pensamentos através dos anos, minha mãe cantarolando uma modinha de domínio público e meu pai ritmando, batucando à mesa com os dedos.
Entrar no quadro me trouxe de volta as raízes, meu povo e meu chão. Os vizinhos, Dona Dina estendendo roupas no varal, ela sempre me dava confeitos de mel de engenho que ela mesmo fazia. Dona Hortência, mulher com nome de flor, conversando com o marido Estácio, homem brincalhão que falava rápido a ponto de quase não se deixar entender.
17:30 horas, o apito da Usina Catende, vindo do vapor das caldeiras anunciava a saída dos operários de mais um dia de trabalho, entre eles meu avô, marmita na mão, roupa com cheiro de ferrugem misturado com melaço, bota e chapéu, sorriso largo no rosto tornando ainda menores os olhos pequenos.
Óleo sobre tela, realidade revelada pela sensibilidade do artista. Óleo sobre tela trazendo sons e imagens de uma época que passou com muita alegria.
Terminei de tomar o café, saí do quadro e saí.

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sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Minha agenda

09.11.2010 - 18hs - A Comunicação como ferramenta de Administração – FAREC Faculdade do Recife
17.11.2010 - 19hs – Administração do Tempo – UFPE Anfiteatro do CCSA
20.11.2010 - 14 às 19hs – Curso de Extensão. Realização CPHD – Planejamento Extratégico de RH

11.12.2010 - Gestão de Pessoas e Clima organizacional - CPHD, Recife

14.12.2010 – 19:30hs - Workshop Administração do Tempo – Hotel Imperial Suites, Boa viagem, Recife, Brasil. Ingressos R$ 20 (incluso coffe break), à venda no local com Sandrelle, fone 21220500. Descontos especiais para grupos de estudantes e empresas

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terça-feira, 2 de novembro de 2010

Um novo mundo para Sofia*

Autor: Laércio Lins

A filosofia ganhou vida, chegou antes da hora esperada. Sofia descobriu seu mundo. Chegou cedo, embora tenha sido acompanhada apenas até a primeira estação por alguém muito especial que precisou voltar ao ponto de origem, havia esquecido parte da bagagem.
A filosofia às vezes perde o sentido e nos deixa só e à procura do próximo pensamento.
Sofia é forte, menina das estrelas e do mundo das miniaturas, chegou para se expandir e exercitar sua grandeza. A filosofia abre portas para grandes e pequenas interrogações, Sofia chegou provocando, surpreendendo, fazendo pensar, indefesa e sem armas no mundo dos gigantes, vencendo batalhas e guerras em silêncio. A filosofia precisa de tão pouco espaço e ao mesmo tempo preenche milhões de corações e mentes.
Sofia é a menor gigante que veio da terra dos titãs, misto de menina e deusa, sua luz vem do fogo das vestais, seus pés são tão pequenos, grandes são seus passos, grande é seu caminho. Ganhou a primeira batalha em meio à pressão do ventre materno. Optou pela vida, optou pelo brilho das estrelas que clareiam as noites escuras.
Filosofia do mundo explicando Sofia. Desenho de todos os lápis numa anunciação. Prenuncio de calmaria após a tempestade. As coisas acontecem sem explicação para explicar o que não se explica nem se entende, o que apenas se sente com saudade e afeto.
A pequena gigante nos trouxe outras leituras, interpretações dos sentidos escondidos nas entrelinhas. Chegou como um raio de sol pela janela do amanhecer, como vida que brota do grão que descansa na umidade do algodão sob a expectativa de uma criança que espera a primeira folha de vida.
Filosofia que remete à busca do pensamento novo, da companhia que acompanha só até a porta da nova festa e volta para dormir mais um pouco, por que o tempo é assim, cedo para alguns, tarde para outros. Hora certa para Sofia. Hora do agora que constrói o entendimento a partir de outra ótica, hora do agora que contradiz regras e planos.
Sofia chegou em nova ordem, fora de série editando nova lógica, pedindo atenção e valorizando a simplicidade de cada inspiração e expiração.
Sofia é guerreira, da turma de Minerva quando roubou o fogo do sol para iluminar os leigos que se julgavam sábios. Chegou como a libélula que saiu do casulo antes do tempo natural, por que já era tarde para começar o processo de voar. Chegou para brincar de pular, simplesmente de pular, por que o mundo estava muito sério, muito ocupado com sabedorias inúteis. Chegou para mudar o ritmo e a ordem.
Sofia redescobriu o mundo de quem estava a sua volta, a sua espera. Chegou com uma malinha minúscula que quando se abriu revelou a imensa bagagem compactada. A filosofia não cabe em si, nem Sofia.

(*) Sofia nasceu prematura, de uma gestação de seis meses, em 25.10.2010. Sua "acompanhante," irmã gêmia não chegou a nascer.