quarta-feira, 29 de junho de 2011

Estrela do barro

Autor: Laércio Lins


Estrela do barro, sonho Vitalino.*
Paisagem de sol de um sonho menino.
Princesa agreste, alegria na feira,
um pífano, um som, vegetação rasteira.
Estrela de couro das mãos artesãs,
arreios de prata pangarés e alazãs.
Bonecos de barro, argila queimada,
ferro, fogo, aço, madeira pintada.

Na feira histórias, sonhos nordestinos,
do barro esperança no olhar do menino,
Uma mãe, filhos e um destino.
olhando a vida das filhas
vestidas em roupas de chita.
A Igreja e o som do sino

Vitalino, argila, viagem,
a cidade, os meninos, o encanto a paisagem.
Vitalino, o milagre.
O sopro no barro e outra vida se abre.
Personagens, Lampião e o cangaço,
Retirantes na rima, na prosa e poesia,
O abraço, o prumo, o rumo e o cansaço.
Encontro e partida em outro verso que faço.
Terra, mãe do barro, que guia os filhos em seus passos.


(*) Mestre Vitalino (1909-1963) – Artesão que representou personagens e costumes do sertão e agreste nordestino brasileiro através de bonecos moldados com barro.

www.aostraeaperola.blogspot.com

terça-feira, 21 de junho de 2011

A cidade


Autor: Laércio Lins (Texto e gravura)


A noite dorme e a manhã acorda, durante o dia cansaço e trabalho.
A noite calada a refletir enquanto as luminárias dos postes iluminam os olhares das casas e edifícios.
Trens, metrôs, carros, motos, livros, cadernos, computadores e papéis. O dia nem sempre almoça, a noite nem sempre janta. A tarde canta e a madrugada dança.
O tempo encurta e o calor agita. Espera e se encontra, se expande e se encolhe.
Gatos de rua sem companhia, cães latindo nas favelas nuas, criança sorrindo em brincadeiras de rua.
Casais namorados e flores. O estresse, a loucura, o mendigo, a droga, a cola e o menino.
Os sentidos se ajustam à música do tempo, cada recanto e cada momento com sua trilha sonora.
O cego enxerga o barulho do vento enquanto ninguém o vê.
Antagônicos sentimentos se misturam pela busca, por metas e por dias melhores.
A cidade é tão grande quanto pequena, tão rica quanto pobre.
No semáforo, a menina vende chicletes. Longas avenidas se escondem nas esquinas.

As pontes às vezes me levam para lugar nenhum.
Arranha-céus. A língua arranha o céu de minha boca, mas, não cala minha voz.
Os olhares nas fotografias revelam folguedos, carnavais e folias. Revelam segredos, carências e magias. A cidade tem encantos e segredos a revelar: O cais do porto, o cais dos rios e o cais das pessoas.
Revistas, novelas e jornais são “fofocas” oficiais.
Pausa pra um café.
Pausa pra o intervalo comercial.

terça-feira, 14 de junho de 2011

A beleza essencial

Autor: Laércio Lins


Há pessoas que falam frases bonitas mesmo quando estão em silêncio. Acredito que a essência se reflete na expressão, há fisionomias que fazem bem a quem olha. Não se trata de padrões de beleza ditada por tendências de moda. Alguns classificam de carisma ou simpatia a raridade do equilíbrio entre o olhar e o sorriso dizendo a mesma coisa. A beleza não é exata, a fotografia pode não representar a mesma leveza que o objeto ou pessoa tem em movimento, os fotógrafos sabem disso tecnicamente. A imagem tem brilho natural ou não, esse é o diferencial para revelação da beleza.
Também há som no silêncio, para ouvir é preciso ler as palavras que estão nas entrelinhas, neste momento a arte e a ciência se aliam em prol da poesia ou de um motivo. Revelam o conjunto da obra, criam e materializam a abstração, dessa reação surge a beleza da alma como um amanhecer.



Razão: www.laerciolins.blogspot.com.br
Emoção: www.aostraeaperola.blogspot.com.br

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Quero vir, quero ir

Autor: Laércio Lins


Não quero apenas ouvir a história, quero fazer parte dela.
Não quero mudar o cheiro da flor, quero sentir seu perfume.
Não quero só a boca, quero o beijo moldado pela paixão.
Quero a voz transformando o som e a língua esculpindo a palavra. Quero corpo e alma.
Não apenas olhos. Procuro o brilho do olhar, os gestos e a linguagem revelada.
Não quero quebrar o encanto, quero descansar no colo da fada.
Não vou revelar a magia, quero o coelho da cartola, a carta da manga que surgiu do nada, a pombinha que surgiu do lenço e voou alto, além do pensamento.
O vento em meu rosto é brisa, é bom voar como um pássaro.
Não apenas um pedaço, um laço, um traço.
Quero inteiro, passo a passo, por pés que me façam dançar.
Quero a canção que me faça cantar.
Quero a cama o sono e o sonho, descansar e acordar.
Amanhecer, entardecer e anoitecer.
De quando em vez sonhar acordado, é preciso pra viver.
Não quero apenas a saudade, quero também o encontro e o abraço.
Quero a razão sem me perder da emoção.
Não quero apenas o recomeço, quero o renascimento da fênix.
Não quero apenas o alvo, quero a flecha no centro.
Os desejos moram na irreverência da juventude.
Quero preservar a irreverência vestindo-a com a roupa da maturidade que surge com o passar dos anos.
Alguns amadurecem outros apodrecem com o tempo, essa é a diferença entre o sábio e o bobo da corte.
Não quero só a lógica. Preciso também do ócio criativo. Sair da caverna e subir em milhares de torres pra ampliar a visão e aprender a voar com os pés no chão.
A dor da queda é trocada pela certeza de levantar novamente e seguir. Quero quase nada.
Não quero mudar os caminhos, quero pés firmes na estrada com sentido e direção.
Quero vir, quero ir.



Razão: www.laerciolins.blogspot.com.br
Emoção: www.aostraeaperola.blogspot.com.br