sexta-feira, 30 de setembro de 2011

O veleiro

Autor: Laércio LIns


Velas ao vento.
Velejar cortando ondas, ganhando o mar.

Velas ao tempo.
Em novo rumo, águas profundas a desvendar.
Forte veleiro a deslizar por novas paisagens,
águas distantes, longa viagem.

Velas ao vento,
A alma do porto tem metade terra e metade mar.
Às vezes chegada, outras vezes partida.

Veleiro tempo,
outras culturas,
em águas calmas ou tempestades.

Em mar escuro, veleiro medo,
bebendo a brisa, veleiro cedo.
Leve e que leva eterno encanto,
águas, espumas e um rastro branco.

Sede das águas de todos os mares, fome dos ventos de todos os ares.
Seguindo a rota, buscando prumo.
Velas revelam os encantos do mar.

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sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Apenas conceitos

Autor: Laércio Lins

Os sentimentos saem pelas janelas de quem escreve e entram pelas portas de quem lê, ganham outras possibilidades de interpretação e provocam novos sentidos em outros mundos.
A poesia se liberta do autor, se multiplica tanto quanto lida for e deixa um vazio a ser preenchido pela próxima a ser escrita
A sensação de fluxo torna a poesia ainda mais bonita, traz uma sensação de infinito perto, bem ali, quase ao alcance das mãos. Ao mesmo tempo, um sentimento de perda, a espera pela onda que se repete, no entanto, a cada momento em nova forma. Tudo está em transformação, a próxima palavra, o próximo momento, a próxima conversa, o próximo segundo agora é passado. O final anuncia um novo início, o ponto de partida para quem está indo, pode ser de chegada para quem está voltando, por que “nada do que foi será do jeito que já foi um dia.” A prosa pode ser visto como poema ou poesia, o que importa é sentir e o que fica é a ação que leva à renovação.
Fazer é ação, desmanchar o que foi feito também, é tudo uma questão de referência. Tudo flui e tudo é relativo, em um balé de escolhas, as idéias originam nascimento ou morte, adormecem com a noite para não mais acordar ou acordam numa manhã de setembro junto com a primavera a florescer novos gestos.
A poesia está na mãe que amamenta o filho que acabou de nascer e também na morte, vi isso em meu pai em sua partida, sentimento doloroso, mas, que tinha um quê de conclusão, de dever cumprido, de encerramento e também de recomeço.
Para quem não sabe rezar, a poesia é oração, por que Deus compreende a língua dos sentimentos e do amor, não há tradução para o sorriso de uma criança a conversar com seu brinquedo nem para o silêncio de um inocente condenado que desistiu de lutar.
Vejo poesia em palavras que jamais serão escritas, não se conjuga o verbo chover, no entanto, em sentido figurado a chuva pode significar lágrimas e ao mesmo tempo alegria para o homem camponês ao final da estiagem. Tudo está no milagre de viver.
A poesia é muito mais que palavras organizadas em um lay out estético, a verdadeira poesia não cabe na forma sem conteúdo como pensavam os parnasianos, a métrica e a rima são apenas possibilidades.
Há poesia nos pés descalços que pisa a uva, tanto quanto na sofisticação do vinho em brinde, por que poesia é o nome que se deu a todos os sentimentos e todos os momentos. A poesia anda com os pés no chão e a cabeça nas nuvens. Não permite preconceitos, não discrimina e não julga, apenas alivia a inquietude de quem escreve ou de quem lê, com a mesma simplicidade que a água sacia a sede, se molda aos sentimentos como as luvas se acomodam às formas das mãos.

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quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Maquiagem

Autor: Laercio Lins

Realce da alma, olhos,
janelas delineadas,
negrito ao rosto calmo.
O rosto no espelho, sombras, retratos.
Quadro, enquadro do olhar e do olho que vê,
que guarda a clareza, a cor e o tom.
Batom, moldura da boca,
casa da palavra, da voz e do som.
Entre a máscara e a cara limpa,
em sentimento, se transforma a tinta
na face de quem se pinta.

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