sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Viajante do tempo

Autor: Laércio Lins

Lembro daquela viagem.
No porão de um navio negreiro, sou escravo, tenho banzo, sinto frio.
Sofro em várias senzalas, saudade de minha amada.
Vivo em quilombos e sou amigo de Zumbi.
Aprendo com a dor da guerra, o valor da liberdade e o amor por minha terra.
Sou sertanejo, vejo vegetações e folhagens confirmando a estiagem, a terra seca, rachada e o gado sem pastagem.
Também vivo no mangue com amigos caranguejos.
Mergulho em terras estranhas, sou muito curioso.
No alto de uma montanha,
espero por vida nova trazida por Conselheiro.
À luz de um candeeiro escrevo lindos cordéis,
encho os dedos de anéis
e me transformo em bacamarteiro.
Também sou feirante, pescador, ticuqueiro e cambiteiro,
estafeta e vaqueiro. Até compus um aboio.
Sou parceiro de poetas consagrados,
João Cabral de melo Neto e Manoel bandeira.
Sou cangaceiro do bando de Lampião a fugir das volantes
pra minha cabeça não ser cortada.
Canto coco de roda, embolada e ciranda com Lia de Itamaracá,
danço forró e sou rei. Sim, Rei do maracatu rural.
Faço repente abraçado à viola,
cujo mote é o passo de uma ema
e no aconchego da sombra da jurema
adormeço, ao por do sol, nos braços de Iracema.
Converso com Pedro Malazarte,
vejo arte na astúcia de João Grilo,
nas traquinices de Cancão de fogo
e nas desordens de Corisco.
Ajudo Ascenso Ferreira botar o trem nos trilhos
e com ele vou Danado pra Catende pra olhar as moendas da usina.
Me lambuzar no melaço, ver a queimada na cana em nome do açúcar,
mesmo que eu vire bagaço.

Sou viajante do tempo em que a vida é um teatro,
episódios e lendas são partes de uma peça em três atos,
os personagens e mitos são atores tão presentes
que as alegrias e tristezas, o real e a fantasia,
a razão e a emoção, o sim e o não,
são apenas partes da vida que eu mesmo faço.


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domingo, 23 de outubro de 2011

Resta

Autor: Laércio Lins


Resta a resta da fresta da porta,
o rastro de espuma depois do navio
o traço de fumaça depois do avião
o rastro da saudade do amor que sumiu

Resta o passo do homem que segue sozinho
Resta o rastro no fim do caminho
o sopro do vento girando o moinho
A vida no pássaro, o ovo no ninho.

Resta o trovão depois do relâmpago,
resta a fumaça depois da explosão
resta a lava depois do vulcão.
Depois do fogo, da água e do ar, resta o chão


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quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Bandeira encantada

Autor: Laércio Lins


Bandeira encantada, um destino,
me faz de novo menino.
Nuvem azul, uma força,
fada madrinha, um caminho.
Estrela, mãe e guerreira,
jamais me deixas sozinho.

Estrada encantada, esperança,
me faz de novo criança.
Descanso livre em teu colo,
me conduz, me orienta na viagem.
Virgem madrinha me guia
para que eu não me perca em miragem.

Luz encantada, um brilho,
me abraça, eu sou teu filho.
Mãe e Senhora, meu rumo,
me entrego inteiro em teus braços,
ilumina meu destino
e a direção de meus passos.


Homenagem à Mãe de todas as mães em seu dia no Brasil. Salve 12.10.2011
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