terça-feira, 2 de novembro de 2010

Um novo mundo para Sofia*

Autor: Laércio Lins

A filosofia ganhou vida, chegou antes da hora esperada. Sofia descobriu seu mundo. Chegou cedo, embora tenha sido acompanhada apenas até a primeira estação por alguém muito especial que precisou voltar ao ponto de origem, havia esquecido parte da bagagem.
A filosofia às vezes perde o sentido e nos deixa só e à procura do próximo pensamento.
Sofia é forte, menina das estrelas e do mundo das miniaturas, chegou para se expandir e exercitar sua grandeza. A filosofia abre portas para grandes e pequenas interrogações, Sofia chegou provocando, surpreendendo, fazendo pensar, indefesa e sem armas no mundo dos gigantes, vencendo batalhas e guerras em silêncio. A filosofia precisa de tão pouco espaço e ao mesmo tempo preenche milhões de corações e mentes.
Sofia é a menor gigante que veio da terra dos titãs, misto de menina e deusa, sua luz vem do fogo das vestais, seus pés são tão pequenos, grandes são seus passos, grande é seu caminho. Ganhou a primeira batalha em meio à pressão do ventre materno. Optou pela vida, optou pelo brilho das estrelas que clareiam as noites escuras.
Filosofia do mundo explicando Sofia. Desenho de todos os lápis numa anunciação. Prenuncio de calmaria após a tempestade. As coisas acontecem sem explicação para explicar o que não se explica nem se entende, o que apenas se sente com saudade e afeto.
A pequena gigante nos trouxe outras leituras, interpretações dos sentidos escondidos nas entrelinhas. Chegou como um raio de sol pela janela do amanhecer, como vida que brota do grão que descansa na umidade do algodão sob a expectativa de uma criança que espera a primeira folha de vida.
Filosofia que remete à busca do pensamento novo, da companhia que acompanha só até a porta da nova festa e volta para dormir mais um pouco, por que o tempo é assim, cedo para alguns, tarde para outros. Hora certa para Sofia. Hora do agora que constrói o entendimento a partir de outra ótica, hora do agora que contradiz regras e planos.
Sofia chegou em nova ordem, fora de série editando nova lógica, pedindo atenção e valorizando a simplicidade de cada inspiração e expiração.
Sofia é guerreira, da turma de Minerva quando roubou o fogo do sol para iluminar os leigos que se julgavam sábios. Chegou como a libélula que saiu do casulo antes do tempo natural, por que já era tarde para começar o processo de voar. Chegou para brincar de pular, simplesmente de pular, por que o mundo estava muito sério, muito ocupado com sabedorias inúteis. Chegou para mudar o ritmo e a ordem.
Sofia redescobriu o mundo de quem estava a sua volta, a sua espera. Chegou com uma malinha minúscula que quando se abriu revelou a imensa bagagem compactada. A filosofia não cabe em si, nem Sofia.

(*) Sofia nasceu prematura, de uma gestação de seis meses, em 25.10.2010. Sua "acompanhante," irmã gêmia não chegou a nascer.

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