quarta-feira, 18 de agosto de 2010

A Fada Madrinha ou a Mãe Filosofia

Auto: Laércio Lins

Certo dia quando o vento ainda soprava frio, apareceu uma fada e me ofereceu agasalho. Não eram vestes de pano ou de lã. A fada me abraçou como mãe a embalar o filho e sugeriu algumas cenas para o enredo de minha vida. Não me sinto uma pessoa comum, embora seja. Lembro todos os dias do "mito da caverna" quando um dos homens acorrentados em sua própria escuridão resolveu sair para a claridade.
A noite é mãe do dia e os homens procuram o calor do colo, de um colo de mulher que seja refúgio para seus delírios, sonhos, inseguranças e desejos. Freud tentava explicar este sentimento.
A felicidade parece intangível e intocável. Acredito que a felicidade mora no encontro do calor do colo com a claridade da saída da caverna, essa é a única maneira de fazer o vento parar de soprar frio. Assim como a noite é mãe do dia, o vento frio é interior, pai do gelo.
Ganhei da fada madrinha o último raio de sol de um fim de tarde inesquecível. Pela janela havia um rio. Um rio, símbolo de vida, água corrente em direção ao oceano onde navegam os sonhos dos pescadores, do poetas, das gaivotas e os peixes.
Assim foi meu encontro com a fada, assim como o vinho seco, forte no primeiro gole, mas, que depois suaviza e aquece a alma. A felicidade parece várias coisas ao mesmo tempo e está em vários lugares. Muito provavelmente a fada quis me falar de amor enquanto eu sonhava acordado. Falou do frio e do calor, da escuridão e da claridade, da importância da água e do fogo para um coração que bate em ritmo de uma tarde de verão. Me senti duende, capaz de voar. A fada encantada me trouxe um sorriso quando meu sentimento havia entardecido, ela me fez entender que cavamos nossas cavernas, no entanto, se lembrarmos de Pandora, encontramos sempre um fio de esperança saindo de sua caixa maravilhosa, assim como, a Fênix nos promove o renascimento.
A maior virtude do dragão é fazer o guerreiro entender que é forte o suficiente para vencê-lo e que tudo é possível, é assim a natureza. Assim como o frio, o dragão é interno, é o medo que se transforma em estímulo para a coragem.
Certo dia quando o vento ainda soprava frio, descobri que não estava só e que às vezes sou azedo, foi então que percebi que precisava amadurecer para ficar doce, ainda não consegui, mas, vez por outra a fada me diz que estou melhorando e depois some durante séculos com a desculpa que está esperando meu processo de lapidação.
Hoje o vento voltou a soprar frio e me trouxe muitas perguntas sem respostas, matéria prima para novas descobertas e ao mesmo tempo a certeza de que, apesar do frio, sempre posso dividir um pouco de calor, a fada me ensinou.

Um comentário:

  1. Grande mestre,

    Primeiramente lhe parabenizo pelo belo texto, fruto de uma alma de sensibilidade superior. Acredito que devemos sair de nossa zona de conforto que na verdade é uma âncora que nos prende na mesmice restringindo infinitas possibilidades de aprimoramento das nossas virtudes!
    Um forte abraço, grande mestre!

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